Às vezes, o encontro com a profissão pode vir em um dos momentos de maior desafio e preocupação da vida. Foi o que aconteceu com a Bruna Paula Alves de Araújo da Silva, de 37 anos, que decidiu se tornar técnica em enfermagem depois de ver a necessidade e o carinho desses profissionais com filha dela, Stefani, que enfrentou a cardiopatia congênita. Nesta quinta-feira, 12 de junho, é celebrado o Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita.
Essa história começa há 13 anos, quando a filha nasceu aos sete meses de gestação. Logo após o parto, Bruna soube que os médicos tinham identificado anormalidades do coração – Stefani foi diagnosticada como cardiopata. Até então, o “sopro” e as outras complicações não foram vistas como graves. Porém, após vários quadros de pneumonia, a situação se complicou.
“Foram nove internações por causa de pneumonia até os três anos de idade. Em algumas oportunidades, nós ávamos quatro, cinco dias em casa e já precisávamos voltar para o hospital e ficar 20 dias em internação”, relembra.
Bruna, que é moradora de Tarabai e trabalhava como empregada doméstica à época, vivia essa jornada constante em busca da saúde da filha. Com a piora no quadro da menina, veio a recomendação de cirurgia, o que só aconteceu quando Stefani completou 10 anos.
Em meio a essa jornada, a sensibilidade dos profissionais que faziam todo o acompanhamento e tratamento da criança “brilhou” aos olhos dessa mãe e encheu o coração dela de afeto.
“O cuidado que tinham com a minha filha era incrível. Todo esse momento foi bem difícil para mim, mas os enfermeiros e técnicos de enfermagem eram muito humanos ao cuidar de nós”, conta.
Foto: Cedida - Bruna pensou em fazer curso técnico em Enfermagem inspirada pelos cuidados recebidos pela filha
Depois da cirurgia, Stefani não sofre mais com os efeitos da cardiopatia – muito disso porque, durante toda essa história, os profissionais de saúde foram fundamentais.
Ao ver todo o empenho, profissionalismo e empatia que encontrou nos hospitais onde foi atendida (Iamada e Santa Casa de Misericórdia), Bruna teve um estalo: ela poderia estar nesse papel e se encontrar no cargo de técnico em enfermagem. Por isso, se inscreveu no curso técnico da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista).
Nessa época, o apoio da mãe, dona Maria Rosana de Souza, que arcou com as mensalidades, foi fundamental. Não foi simples: como morava em Tarabai, precisava pegar o ônibus todos os dias para estudar no curso técnico em Enfermagem da Unoeste. Ainda dividia o tempo com os cuidados com a casa e com os filhos.
Bruna se formou em 2024 e o empenho no curso e toda a motivação que tinha para exercer essa função tão importante dentro de hospitais e instituições na área da saúde fizeram a diferença na busca por um emprego.
“Em dezembro, terminei o curso. Em janeiro, recebi a notícia de que seria contratada no Hospital Regional [Doutor Domingos Leonardo Cerávolo] de Prudente. O apoio dos professores foi muito importante para conseguir esta vaga. Hoje, já estou completando quatro meses neste trabalho e estou muito feliz no meu emprego! Muito mesmo! Só tenho a agradecer a equipe dos cursos técnicos da Unoeste. Quando o aluno se empenha, dá certo, pois há todo o apoio por parte dos professores e funcionários!”, diz Bruna, que também já tem planos de fazer a graduação em Enfermagem.
Segundo a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), o Dia de Conscientização da Cardiopatia Congênita reforça a importância do diagnóstico precoce de um grupo de doenças que figura como uma das principais causas de mortalidade infantil. Elas não podem ser evitadas, mas, se diagnosticadas ainda no início, podem ser revertidas.
A cardiologista pediátrica e fetal e professora do curso de Medicina da Unoeste, Bruna Carapeba, explica que a cardiopatia congênita é um defeito no coração que nasce com a criança, mas nem sempre é identificada nessa fase da vida. “Não importa se o diagnóstico foi feito ainda no útero da mãe, depois do nascimento ou quando adulto”, afirma.
Ela explica que são vários tipos de cardiopatia congênita, mas alguns sinais são mais comuns entre os pacientes. “São aquelas crianças e aqueles bebês mais cansados. Quando ele é pequenininho, tem uma dificuldade maior para mamar, tem um tempo de alimentação prolongado. Quando maior, não consegue acompanhar as crianças em outras atividades”, afirma.
Também é importante ficar atento aos quadros de cianose, que é quando a criança fica “roxinha”. “Eles representam as situações mais graves de problemas no coração”, aponta.
Foto: Ector Gervasoni - Bruna Carapeba atua como cardiologista pediátrica e fetal
Antes do tratamento adequado, o diagnóstico da cardiopatia é feito por exames de imagem. “O principal aliado na identificação é o ecocardiograma, que é o ultrassom do coração. Ele pode ser feito na vida fetal, ainda no útero da mãe, ou em outras etapas da vida. Mas quando fazemos ele ainda no útero da mãe, conseguimos o diagnóstico de cardiopatias mais graves, que vão levar os bebês a ter risco de mortalidade após o nascimento”, explica Bruna.
O tratamento e o acompanhamento são necessários desde os casos mais simples aos mais complexos. Porém, nesses últimos, a indicação pode ser a realização de cirurgias.
“Essas cirurgias podem ser feitas logo após o nascimento ou nos primeiros meses após o nascimento. Mas há cardiopatias mais simples que podemos operar nos primeiros anos. Além disso, algumas nem precisam de operação. Cada caso deve ser individualizado e tratado como único”, detalha a cardiologista pediátrica.